Comentários acerca da obra “A arte de escrever”, de Schopenhauer

“As obras são
a quintessência de um espírito.”
(Schopenhauer)

Arthur Schopenhauer foi um filósofo alemão que viveu entre 1788 e 1860. Costuma-se dizer que sua obra principal é O mundo como vontade e representação, mas ele escreveu vários livros interessantes, como, por exemplo: Sobre a visão e as cores; A arte de se fazer respeitar; A arte de insultar; A arte de ter razão; A arte de ser feliz; A arte de lidar com as mulheres etc.

Nesta ocasião, abordarei a obra A arte de es­crever, que reúne cinco textos: 

1) sobre a erudição e os eruditos; 

2) pensar por si mesmo; 

3) sobre a escrita e o estilo; 

4) sobre a leitura e os livros; e 

5) sobre a linguagem e as palavras.

Ele inicia criticando a falta de verdadeiro interesse tanto dos professores como dos alunos na busca e no aperfeiçoamento do conhecimento: 

Os professores ensinam para ganhar dinheiro e não se esforçam pela sabedoria, mas pelo crédito que ganham dando a impressão de possuí-la. E os alunos não aprendem para ganhar conhecimento e se instruir, mas para poder tagarelar e para ganhar ares de importantes. (p. 19)

Afirma que, em sua época, as pessoas estavam mais preocupadas em obter “informação” do que “instrução”, que são coisas diferentes, pois a informação é um mero instrumento para a instrução. Aduz que o excesso na busca por informações acabava prejudicando a formação do “pensamento próprio”.

Considera que a grande maioria dos estudiosos, dos eru­ditos, jamais chegará a colaborar com algo grandioso para a sociedade e, tampouco, para o conhecimento humano, porque usam a ciência apenas como um meio para ganhar dinheiro e não como um fim em si mesmo. Para ele, “… só chegará a elaborar novas e grandes concepçõesfundamentais aquele que tenha suas próprias ideias como objetivo direto de seus estudos, sem se preocupar com as ideias dos outros”.

Constata que algumas pessoas se tornam “especialistas eruditos”, isto é, possuem um conhecimento profundo sobre determinado assunto, mas fora dele são ignorantes, como um operário que passou a vida inteira movendo determinada alavanca. Quem pretende ser um verdadeiro filósofo precisa conhecer as mais diferentes áreas do conhecimento humano, por isso os espíritos de primeira grandeza jamais devem procurar ser “especialistas eruditos”, mas ter uma visão holística das ciências humanas.

Para a melhoria no ensino universitário, ele pontua curiosas sugestões, entre as quais:

– Não se deveriam aceitar estudantes com menos de 20 anos de idade;

– no primeiro ano do curso, dever-se-ia estudar apenas filosofia;

– os três cursos superiores são: teologia, direito e medicina;

– no ensino médio, dever-se-ia estudar especialmente a língua materna, história, línguas antigas e matemática.

Mas, como as instituições se preocupam mais com a quantidade de alunos do que com a qualidade, reconhece que essas propostas não seriam aceitas.

Compara uma grande biblioteca, com muitos livros, mas desorganizada, a uma pessoa que tem muito conhecimento, porém não tem “pensamentos próprios”. O conhecimento precisa ser acompanhado de profunda reflexão para que seja bem assimilado.

Afirma que o método mais eficiente para nunca chegar a ter as próprias ideias é “pegar um livro nas mãos a cada minuto livre”.

Os gênios, os grandes pensadores da humanidade, são aqueles que se detiveram em aprender “diretamente no livro do mundo”, no sentido de que é inútil para os grandes pensamentos a mera leitura de livros (que caracteriza o filósofo livresco), sem uma verdadeira reflexão sobre as ques­tões da vida (que caracteriza o filósofo verdadeiro).

Reconhece, contudo, que não é possível ter pensamentos próprios a todo momento, então é necessária a leitura nas demais horas porque com esses pensamentos alheios se “alimenta oespírito com materiais, na medida em que outro pensa por nós”.

Alerta para o fato de que a “meraexperiência não pode substituir o pensamento”, porque a “pura empiria está para o pensamento como o ato de comer está para a digestão e a assimilação”. Não pode a boca acreditar que sustenta sozinha o corpo.

Ressalta a importância de escrever os pensamentos, pois “o mais belo pensamento corre o perigo de ser irremediavelmente esquecido quando não é escrito”. 

Sobre a escrita e o estilo, começa explicando que “existem dois tipos de escritores: aqueles que escrevem em função do assunto e os que escrevem por escrever”.

Os primeiros escrevem porque tiveram pensamentos. Os outros só porque precisam de dinheiro.

Aduz ser um erro acreditar que o que foi escrito por último é mais verdadeiro do que o que foi escrito anteriormente, porque “as cabeças pensantes, os homens que avaliam corretamente as coisas são apenas exceções”. É por isso que afirma que o “curso da ciência muitas vezes é um retrocesso”.

Sobre as cabeças banais, Schopenhauer afirma que procuram esconder sua banalidade por meio de construções “forçadas, difíceis, com neologismos e frases prolixas”, porque “gostariam de expor o pensamento de modo a lhe dar uma aparência erudita e profunda, para que as pessoas achem que há, por trás dele, mais do que percebem no momento”. Por isso é que se leem frases inteiras em que não se disse nada.

Cita Horácio (309 d.C.) que ensina: “o saber é o princípio e a fonte para se escrever bem”.

Assevera que “não há nada mais fácil do que escrever de tal maneira que ninguém entenda; em compensação, nada mais difícil do que expressar pensamentos significativos de modo que todos os compreendam”.

Por isso é que o pensador autêntico se esforça “para dar a seus pensamentos a expressão mais pura, clara, segura e concisa possível”, porque a simplicidade sempre foi a marca dos gênios. Estes, aliás, optam pela expressão “mais concreta porque ela expõe o assunto à claridade, que constitui a fonte de toda evidência”, enquanto os escritores menos preparados “escolhem, em todos os casos, a expressão mais abstrata”.

Ataca também a prolixidade e todo o entrelaçamento de observações no ato de escrever, sendo preferível deixar de fora do texto algo que seria importante incluir a inserir algo inútil, pois “é preciso ser econômico com o tempo, a dedicação e a paciência do leitor”.

Cita Voltaire no sentido de que “o segredo para ser entediante é dizer tudo”.

Considera sinal de mediocridade o ato de usar muitas palavras para dizer poucas coisas, sendo que o contrário, isto é, falar muito usando poucas palavras, é indicativo de uma mente superior.

Porém, chama a atenção para não confundir “cortar palavras” com “pensar de modo conciso”. Assim, para se comunicar com clareza, não se deve economizar as palavras necessárias.

E isso não só nas palavras, mas até mesmo na pontuação, porque o mau uso, ou o uso deficiente, tem como primeira consequência “que se torna necessário ler cada frase duas vezes”.

Orienta que os textos devem ser escritos não como se “se recitasse um monólogo”, mas procurando “estabelecer um diálogo, e na verdade um diálogo no qual é preciso se expressar de modo ainda mais claro, já que não se ouvem as perguntas do interlocutor”.

CONTINUA…


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Sobre o Autor

H. S. Lima

H. S. Lima é escritor, advogado e palestrante. Tem como propósito de vida compreender os princípios eternos contidos principalmente nos cinco primeiros livros do Antigo Testamento, chamados de Pentateuco ou Torá, identificar a compatibilidade com a mensagem de Jesus Cristo, para então ensinar como observá-los na vida pessoal e profissional.

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